Nov | 28 | 2017 Chronicles leitura de 36 minutos

Luz e Sombras: Reconciliação

Capítulo I - A Noite de Ventania

"Quanto tempo mais... antes de minha mente se perder por inteira?". Essas eram as palavras que cruzavam os pensamentos de Valerie todas as manhãs. Olhava a alvorada pelas janelas de seus aposentos, por vezes tentando compreender porque o destino ainda lhe oferecia esta oportunidade.

A renúncia de Valerie à utilização da magia das sombras a colocou em profunda introspecção em sua guarnição em Quedaluna. Enquanto a incursão em Draenor acontecia de forma incisiva, ela permanecia ausente da batalha. Confinada atrás dos portões de seu castelo, ela analisava alternativas ao uso das sombras, ao mesmo tempo em que amargava suas memórias. Suas adagas haviam sido trancadas em um baú nos seus aposentos, com uma fechadura acoplado a um crypto. Um pequeno gosto dos velhos tempos em que ela ainda podia aplicar a engenharia como um entretenimento. Tempos selados na memória, assim como aquelas adagas seladas naquele baú.

Meses já haviam se passado, e o minucioso estudo de artefatos recuperados de Ulduar e Uldaman trouxeram grandes avanços em seu conhecimento aplicado à engenharia, obteve visões de novos dispositivos, formas de armazenamento e transmissão de informações... Uma revolução na arcaica metodologia de papel e tinta, utilizada até então. No entanto, nada conseguia trazer o brilho de uma ideia para a solução do real problema: Magia. Magia das sombras. Valerie focava seus esforços na busca de uma solução que a permitisse voltar à atividade, uma solução que se mostrava mais e mais evasiva ao passo que suas fontes de pesquisa e sua motivação se tornavam escassas. "Como uma ladina pode agir sem utilizar as sombras?" Um pensamento atormentador que a acompanhava a cada por-do-sol que cruzava as estações por detrás daquelas muralhas. O tempo não espera.

Já era tarde, os ventos estavam fortes naquela noite, mais fortes do que o usual. Os braços expostos de Valerie sentiam a carícia gélida daqueles ares, enquanto poliam vigorosamente um artefato de Ulduar com um pedaço grosso de tecido. Sentada em sua bancada à porta da oficina, nem percebeu quando o Assistente Engenheiro Zaren Hoffle se aproximou pelo lado oposto do recinto: "Madame, peço permissão para me retirar, creio que não conseguirei mais nenhum progresso hoje." — Zaren disse enquanto retirava cuidadosamente seus óculos de aumento. "À vontade, Zaren. Eu ficarei um pouco mais.". Valerie se inclinou para trás, descansando as costas no encosto metálico de seu banco, tentando espairecer. Seus olhos se esforçavam para focar as três grandes engrenagens no teto da oficina, já com certa dificuldade após o longo dia de trabalho. As três engrenagens estavam imóveis, assim como o progresso de sua pesquisa. O gerador já havia sido desligado há horas.

Ela ouvia os passos de Zaren cada vez mais distantes, pouco a pouco sendo substituídos pelo som dos insetos nas árvores ao redor. Fechou seus olhos e permitiu-se um devaneio por alguns minutos. Pensou nas pinturas na parede de seu quarto: As claras planícies de Nagrand em Outlands; O exército da Aliança avançando em Naxxramas sobre o Ermo das Serpes, mas seus pensamentos logo sucumbiram ao par de adagas que havia saqueado da caverna à beira das falésias da Cidadela da Coroa de Gelo, meses após a queda do Lich Rei. Deixou-se perder nas possibilidades dos rumos que sua vida seguiria se tivesse tomado decisões diferentes.

Valerie abriu os olhos subitamente, um alto som metálico a acordou de um sono não planejado na oficina. Ao chão, ela pôde ver o pedaço de tecido que usava para polir e uma barra de sucata que havia acabado de rolar de sobre a mesa. "Quanto tempo eu dormi?" Ela olhou para fora e observou o armazém por alguns instantes, podia ver a relutante dança das árvores com os ventos fortes daquela madrugada, uma bucólica cena enquadrada pela larga porta aberta. Abraçou os próprios braços, e foi pega de surpresa por um pensamento: "A porta aberta... Por que eu não sinto mais o vento?!". Levantou-se num movimento rápido e correu para a entrada da oficina, somente para em instantes ser arremessada ao chão por algo rígido, imóvel e... invisível.

Capítulo II - O Espreitador e a Presa

Ali, em sua frente, surgiram então dois grandes olhos azuis brilhantes, materializando-se em pleno ar. A luminosidade do ambiente diminuía, revelando a porta da oficina bloqueada pela cabeça, o tórax e as patas dianteiras da criatura que surgia de sua invisibilidade, um réptil enorme e rústico, cabeça triangular e uma boca protuberante, o corpo envolvido em escamas polidas escuras e todo o seu dorso coberto de formações espinhosas que iam quase até o teto. "Um espreitaprados ensombrado!" — Valerie pensou enquanto tomava uma posição defensiva. Havia algo estranho, no entanto... Ela conhecia bem os espreitaprados daquela região, pelo menos uma dúzia deles haviam sido eliminados por ela e sua equipe durante a construção da guarnição, eles sempre foram de coloração roxo escura, com marcas e olhos amarelos, e não cresciam mais do que quatro metros de comprimento. Este, no entanto, era uma criatura massiva, visivelmente muito maior que o normal, de coloração azul escura e listras e olhos azul claro brilhantes como se emanassem fogo gélido.

A ladina levantou-se rapidamente enquanto o animal inclinou sua cabeça, analisando-a. Com um passo para trás, Valerie assumiu uma postura evasiva, evitando dois rápidos golpes que surgiram sem aviso do animal, que era muito mais rápido do que o tamanho de seu corpo parecia permitir. Ele emitiu um chiado longo ao recolher as patas e abriu a enorme boca enquanto fixava o olhar em sua presa. Fatigada, a ladina alcançou seu bolso de trás procurando desesperadamente por algo, mas antes que ela conseguisse retirar sua mão dalí a criatura a acertou violentamente com a pata direita, derrubando-a e segurando-a no chão, prendendo seu braço esquerdo nas costas. Imobilizada, Valerie reagiu esticando sua perna direita que acertou um chute no banco metálico de sua mesa, derrubando-o sobre sua perna enquanto a boca imensa com duas fileiras de dentes triangulares o envolveu, esmagando-o e conseguindo ainda perfurar a perna da ladina.

Sua mente ordenou um grito, mas seu corpo só foi capaz de produzir um gemido abafado de dor enquanto sentia o animal morder cada vez mais forte, triturando lentamente o banco que impedia que sua perna fosse dilacerada. Com seu braço direito, ela buscava por qualquer coisa ao seu alcance... Como por uma jogada do destino encontrou no chão a barra de sucata que havia caído de cima da mesa. Em um movimento impreciso acertou um golpe na cabeça do animal, perfurando-a levemente e prendendo a ponta da barra entre as escamas, mas o animal permanecia inabalado.

Empurrando a barra de forma aflita, Valerie começou a sentir-se atordoada conforme sua visão tornava-se nebulosa e cada vez mais distante. "Veneno!" — ela pensou. A espessa saliva da criatura cobria sua perna e os ferimentos, a toxina já estava agindo e em breve ela estaria paralisada... Era questão de tempo, e o tempo não espera. Já quase inconsciente ela fez algo de que se privava há muitos meses... como num reflexo, em um fraco suspiro pronunciou: "Manto das Sombras". Imediatamente uma fina camada sombria cobriu todo o seu corpo, eliminando o veneno de sua circulação. As sombras eram confortantes. Por aproximadamente cinco segundos ela estaria lúcida novamente, imunizada da toxina... No entanto, algo inexplicável ocorreu: Em menos de um segundo toda a camada sombria que cobria seu corpo deslocou-se para o seu braço direito, passando por sua mão e pela barra metálica, sendo sugada por completo pelas escamas da cabeça do animal.

O animal afrouxou suas mandíbulas imediatamente, emitindo um chiado agudo no momento em que sua cabeça desapareceu em um flash de luz azulada, arremessando a barra metálica para longe. Liberada de seu predador, a ladina rolou para o lado e finalmente conseguiu retirar do bolso esquerdo um invólucro contendo um pó escuro, atirando-o ao chão e produzindo uma espessa nuvem de fumaça. Pela segunda vez ela precisou fazer uso das sombras, assumindo um modo furtivo e tornando-se imperceptível. Agarrou o pedaço grosso de tecido que estava ao chão e pressionou-o contra os ferimentos de sua perna, enquanto rastejava com dificuldade para o fundo da oficina.

Valerie apoiou as costas na pesada porta de ferro do gerador, logo começando a sentir uma leve vibração e um som forte e pesado, como um grave zumbido vindo das bobinas de dentro da cabine. De alguma forma o gerador havia sido acionado novamente e os componentes mecânicos estavam se iniciando, luzes se acendiam no painel e as grandes engrenagens do teto da oficina começavam lentamente a girar, emitindo um som estalado e incremental.

Estendendo sua perna debilitada sobre o chão, ela olhou para o outro lado da sala, visualizando a cabeça do animal reaparecer de sua invisibilidade. O local onde antes estava presa a barra metálica era agora um aglomerado de escamas eriçadas que cintilavam luz azul inconstantemente. Retomando-se do abalo, a ladina tentou compreender o acontecido por um breve momento, mas sua dor era bem mais ofuscante do que aquelas escamas luminosas. O animal olhou para os lados tentando encontrá-la, enquanto o ferimento em sua cabeça se apagava. Seus olhos de fogo azulado brilhavam mais intensamente, explodindo de ira. Ele emitiu um chiado longo e desapareceu, tornando-se totalmente invisível. A ladina percebeu que ele adentrava vagarosamente a oficina ao ver o resto retorcido do banco metálico ser empurrado para o lado pela massa invisível.

Capitulo III - A Dança das Sombras

A dor de Valerie puxou seus olhos para o tecido cobrindo seus ferimentos, que se tingia de vermelho carmim. O sangramento não parecia estancar e ela sabia que sua furtividade seria dissipada assim que uma gota de seu sangue tocasse o chão, revelando sua localização. Era questão de tempo, e o tempo não espera. Olhou angustiada para os lados e viu a maleta de ferramentas de Zaren, guardada no armário à sua direita. Tentando controlar seu próprio fôlego, ela estendeu o braço esquerdo sobre o corpo em um esforço para alcançá-la, mas não conseguiu... Pressionou então o tecido em sua perna com a mão esquerda e estendeu o braço direito, puxando a caixa de ferramentas com a ponta dos dedos ensanguentados... mas estava nervosa demais e o sangue em sua mão não lhe deu a firmeza que precisava. A maleta escorregou e caiu ao chão, abrindo-se e espalhando as ferramentas em um estrondo metálico. A ladina gemeu de frustração e dor, e pode ouvir um chiado rápido do animal que reagiu ao barulho.

Valerie parecia nunca ter estado tão apavorada, sentia seu coração disparado e pulsando em seu pescoço. Ela ofegava em alto som quando percebeu com os dedos da mão esquerda que o tecido estava cada vez mais enxarcado. Seus olhos aflitos que procuravam por qualquer sinal da criatura voltaram-se para baixo, e ela viu... Um filete de sangue escorria pela parte interna de sua coxa, desenhando no chão de carvalho uma meia lua escarlate que refletia as luzes do gerador. Sentiu seu refúgio nas sombras se dissipando, e ao mover seus olhos para cima pôde observar enquanto a imensa massa azul-escura surgia a menos de um metro com olhos incandescentes e implacáveis. O animal se levantou sobre as patas traseiras, dobrando de altura, e a ladina suspirou... fechando os olhos com força.

E então, o tempo finalmente pareceu esperar. Com seus olhos fechados ela aguardava o momento... que não queria chegar. Segundos pareciam inteiras dezenas de minutos enquanto a imagem queimava em sua mente: Os dois grandes olhos azuis. Era como rever o próprio Lich Rei em seu patamar na Cidadela da Coroa de Gelo. Valerie sentia-se inerte, desmantelada. Sua renúncia às sombras foi como o abandono a seu próprio espírito. A essência se perdera, dia após dia, deixando para traz a casca vazia da pessoa que superara a todas as adversidades daquele mundo. A salvadora de milhares não salvaria a si mesma.

Um súbito ruído se fez presente... O som alto de metal sendo retorcido retirou a ladina de seu transe; ela abriu os olhos como se acordasse em sua pós-vida: As grandes engrenagens do teto da oficina se sobrepunham, prendendo duas placas espinhosas do dorso do animal que, em sua investida, foi vítima de outro golpe do destino, que parecia jogar a favor de Valerie. Urrando, a criatura se debatia na tentativa de libertar-se da inesperada armadilha... as engrenagens não aguentariam muito tempo. Em um estado quase anestésico, a ladina baixou novamente seu olhar. A meia lua de sangue já era um círculo completo, vermelho e brilhante. Seus olhos viraram-se lentamente para a esquerda e em seguida para a direita. Via as ferramentas de Zaren espalhadas caoticamente pelo chão, exatamente como o caos em que se encontrava sua vida.

Talvez seu desespero, talvez a perda de sangue, ou talvez algo sobrenatural levou Valerie a acreditar que as sombras se moviam espontaneamente ao seu redor. Um leve movimento contínuo, ritmado... pequenos vultos escuros se aglomerando em um grande lençol negro sob seu corpo, numa dança hipnótica. Seu pescoço relaxou sobre o peito enquanto seu olhar se perdia na escuridão que se formava, aprofundando-se mais e mais no mar de vazio. Não via nem ouvia mais nada, apenas sentia seu corpo descer, flutuando levemente. Em meio ao breu, percebeu fragmentos abafados de conversas e memórias, mas não conseguia identificá-las.

Notou, então, uma imagem mais brilhante: uma fonte de luz ao longe. A luz a deixou curiosa, sentiu vontade de se aproximar. Ela percebeu que não sentia mais dor... Levantou-se e caminhou lentamente em direção à luz, atraída pelo forte brilho amarelado. Só ouvia seus próprios passos e o som abafado da cena que se revelava à sua frente. À medida em que se aproximou, viu então a si mesma, sete anos mais jovem, nas planícies de Nagrand em Outlands. Caminhava ao lado de Droxius e Leviatham, logo após uma grande batalha na arena. Sorria ao lado de seus amigos, dividindo os espólios e planejando como terminariam aquele dia tão glorioso. Droxius acalmava seu Tigre Zulian enquanto Leviatham tagarelava incessantemente, trocando de forma e colhendo cada erva que encontrava em seu caminho. Uma cena clara como a realidade, confortante e acolhedora. Era impossível conter a emoção de relembrar novamente aqueles tempos de forma tão viva.

Valerie mirou nos olhos de seu eu passado, que estranhamente olharam de volta para ela. Sua imagem jovial deu alguns passos em sua direção, soltando-se do plano da memória, e com um semblante sereno estendeu os braços. Como uma resposta quase involuntária, a ladina estendeu seu braço direito ensanguentado... respirou fundo e seguiu caminhando em direção ao seu passado. No entanto, percebeu passos que caminhavam exatamente junto aos seus, seguindo-a de perto.

Capítulo IV - A Luz Azul

A ladina virou-se lentamente para trás, deparando-se com sua própria imagem do presente. Via seus cabelos presos, sua roupa de trabalho e seus ferimentos, uma cópia perfeita de si... mas composta de puras sombras em movimento. Observou durante uma breve pausa, sentindo um sufocante aperto no peito, mas não se questionou. Seu reflexo sombrio manifestou-se: "Conheces o lugar onde pisas. Estiveste aqui antes... mas não desta forma, não tão longe.". Os olhos da ladina permaneciam fixos ao rosto suave de seu reflexo. A figura olhou por cima do ombro de Valerie, para a calorosa claridade da lembrança, e disse pausadamente: "A Luz... salvação que encerrará os tormentos. A conquista... ao final da última das batalhas. O grande refúgio... ao final da vida mortal. Digas-me... estás pronta a abraçar o teu momento?".

Os olhos de Valerie exitaram diante do questionamento, ela virou-se novamente para a memória que esperava por ela com os braços abertos. O vulto sombrio prosseguiu: "Este é o fim a que todos buscam, e que todos encontrarão. A Luz curará tuas feridas, apagará tuas lembranças ruins, e fará de ti... uma alma... sublime. Somente tuas memórias mais felizes serão preservadas, e nelas... permancerás. Este... é o fim. O tempo não existe aqui, minha criança. Não há novos começos, somente a eternidade... inerte... em benção."

Valerie caiu sobre os joelhos, não podendo conter suas lágrimas. Seus pensamentos estavam em total desarranjo. O vulto colocou as mãos sobre os ombros da ladina de forma carinhosa: "Quando renunciaste a mim, meu amor, teu espírito se rompeu. O vazio cresce em ti, lentamente... tomando-te. Perdeste uma parte... que terás de preencher: A Luz... ou a Sombra que ela projeta. Não há escolha errada, minha criança. Deixa que a Luz seja teu eterno berço, ou as Sombras... o teu caminho."

A ladina respirou profundamente e fechou os olhos, a imagem voltava-lhe à mente: a luz azul daqueles olhos incandescentes... Dos olhos de Arthas... Dos olhos do predador que a subjulgara... A luz azul... das lâminas seladas no baú em seus aposentos. A luz azul e fria que aos poucos havia se tornado amarelada, quente... e sagrada. Roubando-lhe a sanidade.

Valerie levantou-se e encarou sua memória, projetou um longo olhar melancólico aos três rostos acolhedores que a observavam: Droxius, Leviatham... e ela mesma. Sorriu, e então suspirou: "Em breve...". Virou-se para trás, estendeu o braço direito à sua sombra e segurou-lhe a mão, fortemente. A luz de sua lembrança sumia lentamente às suas costas, enquanto seus ouvidos se preencheram com as últimas palavras do vulto que a envolvia: "As sombras te guiarão, meu amor. Sempre.".

Toda a escuridão se dissipou como uma núvem negra em um tornado. Valerie se viu sentada no chão da oficina, envolta por sombras que circulavam em uma dança furiosa, devolvendo-lhe a lucidez e os sentidos. Era como se seu espírito perdido houvesse lhe encontrado, preenchendo seu corpo de forma violenta. Olhou para sua mão direita, que fechara fortemente. Percebeu que não segurava a mão de seu vulto sombrio, mas sim um velho micro-ajustador giromático da caixa de ferramentas de Zaren. Foi assim que compreendeu. Olhou para cima e viu o gigantesco animal tentando soltar seu último espinho das engrenagens no teto.

A ladina enxergava claramente, e sentia tudo como há muito tempo não sentira. Apoiou-se com a mão esquerda sobre o joelho, e com um impulso levantou-se em um movimento fluido, desferindo um golpe preciso com seu outro braço, cravando metade da ferramenta sob uma camada de escamas do pescoço do animal. Levou, então, sua mão esquerda ao cabo da ferramenta, segurando-a com ambos os braços, e utilizou o restante de suas forças para empurrar seu corpo para cima, ignorando sua dor e finalizando o golpe, penetrando totalmente o couro da criatura que preencheu a sala com um chiado histérico. Agarrada ao cabo da ferramenta, Valerie fechou os olhos e disse calmamente, quase ao tom de uma prece: "Eu sou a comunhão com as sombras.". O turbilhão que dançava ao seu redor parou subitamente... as sombras mantiveram-se imóveis, como se aguardando por uma ordem. Ao abrir os olhos, a ladina proferiu: "Lâminas Sombrias.".

Um rápido tremor abalou a oficina enquanto as sombras que envolviam a ladina se convergiram para a ferramenta no pescoço da criatura. Uma cascata negra que fluía para o alto, tomando a forma de uma adaga sombria, dilacerando o ferimento. Valerie podia sentir a lâmina mágica perfurando a carne e os ossos do animal, que se debatia em desespero. O feitiço das sombras mais poderoso dos ladinos era, de fato, avassalador.

Mas, de repente, o inexplicável voltou a acontecer: A enorme quantidade de magia das sombras foi absorvida pelas escamas em questão de segundos... toda a cascata negra desapareceu, drenada rapidamente para o couro do animal. As escamas sumiram completamente, emitindo um cegante brilho azul que, desta vez, permaneceu. Valerie pôde ver perfeitamente enquanto uma esfera de energia se formava dentro do corpo transparente da criatura. Ela soltou o cabo da ferramenta e caiu sobre o joelho esquerdo, aliviando a dor em sua perna, ao modo que a esfera aumentava de tamanho sobre sua cabeça, presa dentro da silhueta do animal. Foi ao notar o zumbido do gerador e as ferramentas de Zaren se movendo no chão que finalmente entendeu: "Isso é... eletricidade!" O enorme globo eletromagnético disparava raios a tudo que era metálico ao seu redor, atravessando o couro do animal. As ferramentas estavam sendo atraídas pelo magnetismo, e o zumbido do gerador se fazia cada vez mais alto e agudo; toda a estrutura metálica da oficina tremia. As escamas invisíveis começavam a mostrar fissuras entre si, prestes a rachar... A quantidade de energia contida ali parecia... incontrolável.

Não havia para onde, e nem como correr. Tudo o que a ladina conseguia era rastejar, e foi o que fez... rastejou de costas até a parede ao lado do gerador, mantendo o olhar constante na criatura que agonizava à sua frente. O gerador emitia um ruído nauseante enquanto Valerie se esforçava em manter sua concentração a qualquer custo, ela sabia que só teria uma única chance. Notou o exato momento em que o couro do animal cedeu a uma fissura brilhante e larga, como uma bolha de gás ao explodir na superfície de um pântano. Em uma aposta final, ela não hesitou e disse firmemente: "Manto das Sombras.".

Capítulo V - O Reflexo da Noite

Tudo aconteceu em segundos, que nos olhos de Valerie pareceram muito mais. Ao modo que o corpo da ladina cobriu-se de sombras protetoras, uma enorme nova elétrica explodiu de dentro do animal, varrendo os arredores; cada componente eletrônico da oficina foi arruinado instantaneamente pela onda eletromagnética. Encolhida ao lado do gerador, Valerie viu a onda atravessar seu corpo imunizado pelo feitiço das sombras. Imediatamente ela ouviu um estrondo ensurdecedor quando o interior do gerador explodiu violentamente, disparando sua massiva porta de ferro para fora da oficina, em direção ao armazém, como uma gigante bala de canhão que levou consigo o corpo invisível da criatura. O manto das sombras de Valerie se dissipou, assim como a arrasadora nova elétrica. Esgotada, largada imóvel ao chão de carvalho, ela observou o armazém pela porta da oficina: Um grande caos de baús destruídos, minérios, ervas, reagentes espalhados em meio aos destroços do edifício... e a criatura surgindo de sua invisibilidade. Centenas de escamas escuras cintilavam lentamente, revelando o animal dilacerado, totalmente sem vida. Os grandes olhos azuis jaziam, deixando apenas dois orifícios negros e esfumaçados.

O odor de circuitos e carne queimados se espalhava pela guarnição enquanto a audição de Valerie se recuperava, permitindo-a notar a movimentação de pessoas que corriam até o local, confusas e assustadas com a cena bizarra. Pela porta da oficina ela avistou o vulto de Tessália Corvina, a druida, que chegou aturdida: "Por Eluna! O que aconteceu?!... Valerie!" — ela correu até o corpo estirado da ladina, acompanhada do Sargento Crowler, o intendente da guarnição, e começou a conjurar um feitiço de regeneração.

Crowler ajoelhou-se ao lado de Valerie, pálida, fria, com o olhar distante. "Srta. Bricks, consegue me ouvir?" — Ele disse, mas não obteve resposta... Ela respirava lentamente em uma mistura de meditação e coma, ausente, com seus olhos castanhos perdidos na carcaça do animal, que cintilava como o reflexo da noite estrelada na madrugada de ventania. A ladina parecia em estado de choque, e assim permaneceu por minutos, alheia às tentativas de comunicação de seus companheiros. "O sangramento não quer estancar!" — disse Tessália — "Precisamos levá-la ao o poço lunar com urgência!".

Mas, de repente, a ladina suspirou: "...a solução...". Ela virou os olhos para Crowler, agarrando-lhe fracamente o braço: "Sargento... preciso que... contate o batedor Valdez... Envie-o a Ashran... imediatamente.". Ela tentou se mover, sem nenhum sucesso; sua perna liberou uma nova corrente de sangue vívido. "Temos que tirá-la daqui agora!" — Tessália gritou em desespero, levantando-se e fechando os olhos ao iniciar um novo feitiço. Runas esverdeadas começaram a surgir em um padrão circular sobre o chão, ao redor de todos. Valerie olhou para Crowler mais uma vez, movendo lentamente os lábios gélidos: "Por favor... diga a Valdez que traga... Rangari Laandon... o mestre coureiro." Deixou sua mão cair do braço de Crowler, apontando para fora, mirando a carcaça do animal: "Aquelas escamas... guardam... a solução.". Crowler levantou-se e olhou para o massivo animal, jamais havia visto algo parecido em seus anos de serviço... uma aberração banhada de brilho azulado, uma visão grotesca e surreal.  "Tranquilidade!" — Tessália proferiu, abrindo seus olhos e levantando os braços. O grande círculo rúnico sobre o chão emitiu um suave brilho esverdeado, e o ar preencheu-se de orvalho.

Crowler baixou sua cabeça, vendo a ladina que acabara de adormecer aos seus pés... Atônito, disse em voz baixa: "Como quiser, Srta.", abaixou-se e segurou o corpo de Valerie cuidadosamente sobre seu ombro: "Mas antes... o poço lunar."

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